Atualmente, o termo "burnout" tem aparecido em muitos títulos de notícias… E isso nunca é algo positivo. Mas, o que exatamente é burnout?
Essa condição é marcada por reações negativas, tanto físicas quanto emocionais, à sobrecarga de tarefas. No entanto, burnout não se refere apenas a um sentimento passageiro de frustração; é um estado prolongado de desmotivação e cansaço.
De acordo com o psicanalista Guilherme Facci, a chamada 'Geração Z' é uma das principais vítimas, especialmente no ambiente acadêmico. Mas, por quê? Afinal, a vida de estudante não é a mais desejada?
Atualmente, os níveis de escolaridade da população são bastante mais elevados – e ainda bem – mas, com esse aumento, também veio uma maior pressão para conseguir um bom emprego. Em Portugal, em 1997, cerca de 42 mil indivíduos elevaram seu nível de escolaridade por meio de, por exemplo, uma licenciatura ou doutorado. Em 2020, esse número mais que dobrou para cerca de 87 mil. Um país mais educado é, dificilmente, algo negativo, mas, será que a oferta de trabalho acompanhou esse ritmo?
Como ditam as leis de oferta e demanda, quanto menor a quantidade de um bem, maior é seu valor. Em 1997, era comum assumir que qualquer graduado teria um lugar em sua área de atuação. Em 2020, a realidade é bem diferente e fala-se na banalização da graduação. Infelizmente, o ritmo das ofertas de trabalho qualificado não acompanhou o da educação, fazendo com que os jovens sintam, cada vez mais, pressão para se destacarem.
Assim, o desgaste emocional no ambiente acadêmico ganha cada vez mais destaque nas conversas sobre saúde mental. São poucas as áreas profissionais onde um estudante não precisa se preocupar com estágios ou atividades extracurriculares para conseguir um bom emprego.
Não há dúvida de que integrar uma organização estudantil traz benefícios, desde o desenvolvimento de skills pessoais até capacidades mais técnicas características do departamento. Mas, atualmente, não basta ser membro, já que imediatamente perguntam sobre a tal posição de liderança que deve constar no currículo.
Quanto aos estágios de verão, eles também são uma experiência muito valorizada pelos recrutadores. No entanto, surge a questão: com tantos estágios de verão não remunerados, será tão difícil entender porque muitos estudantes não os possuem? Em um mundo onde grandes empresas acreditam que os estagiários já recebem compensação suficiente pelo conhecimento que adquirem, estagiar é um luxo que muitos não podem se dar ao luxo.
Mas não paramos por aí, pois viajar para terras estrangeiras com as famosas experiências de Erasmus é, cada vez mais, outro critério atrativo. Mais uma vez, surge a questão do esforço financeiro que uma experiência assim exige.
Ah! Não podemos esquecer os hobbies, claro. Quando temos a maioria dos estudantes sobrecarregados com organizações estudantis, estágios e Erasmus, fica difícil selecionar novos colaboradores. Assim, a nova tendência está relacionada aos interesses pessoais dos estudantes e ao que fazem em seu tempo livre – se é que têm algum. Afinal, não basta ser um candidato qualificado, também precisa ser interessante.
Como resultado final, temos jovens incapazes de impor limites à carga de trabalho a que se submetem apenas para conseguir um emprego ao final de sua formação. O estado de burnout pode, portanto, surgir desse sentimento prolongado de exaustão emocional, onde parece que as experiências no currículo e a média do curso nunca são boas o suficiente para garantir a contratação.
Na verdade, quando essa pressão acadêmica se junta à social, que é também exacerbada nesta 'Geração Z' pela existência de redes sociais, cria-se a receita perfeita para o desastre. Dessa combinação, surge uma geração com níveis de ansiedade sem precedentes.
O sentimento de impotência causado pelo burnout tem vários impactos físicos e mentais no estudante, criando um efeito bola de neve onde nada funciona bem. Os seguintes se destacam:
Todos esses sintomas criam uma debilidade na saúde da pessoa, tornando-a mais propensa a adoecer e a entrar em um estado de exaustão física e mental.
Para evitar esse tipo de exaustão mental, sempre se recomenda a prática de exercícios físicos, uma alimentação saudável e boas horas de sono. No entanto, para que essas três coisas sejam possíveis, os estudantes precisam de uma maior capacidade de autoconhecimento: é preciso saber quando dizer 'Chega!'.
Na verdade, a evolução das tecnologias também é um forte incentivo para a perpetuação da falta de limites nos jovens. Quando se tem redes sociais e acesso a e-mail, presume-se que a pessoa está sempre disponível e que qualquer hora é boa para falar sobre trabalho. No entanto, para que os jovens mantenham sua saúde mental, é extremamente importante que se organizem e façam uma clara distinção entre o tempo para estar com amigos, família e fazer coisas que gostam, e o tempo que é apenas para trabalhar.
Entre objetivos acadêmicos e a pressão extra da competição entre os estudantes, é importante lembrar os jovens – e não só – que devem estabelecer prioridades e ser realistas nos compromissos que fazem. Outro ponto fundamental é garantir que uma parte do seu tempo livre seja completamente livre de equipamentos tecnológicos, para que tenham contato com o mundo real e com imagens fora de uma tela.
Por fim, nunca se pode subestimar o valor do apoio emocional das pessoas mais próximas. Pedir ajuda é fundamental, e o primeiro passo é reconhecer que você precisa dela.